terça-feira, 22 de junho de 2010

A vingança como objetivo.

A vingança é o ato de quem, por se julgar ofendido ou lesado, causa a essa pessoa ação mais ou menos equivalente. A vingança é o oposto do perdão. Se a melhor vingança é viver bem, a pior vingança é ter na vingança o objetivo de vida. Mesmo se o que nos lesa é um ato concreto um dano material, a reparação do dano deve ser o limite da atuação. Se, para além da reparação do dano vamos buscar a vingança, causando no agressor outro dano, estamos propagando o mal e esquecendo totalmente de não fazer aos outros aquilo que não queremos que façam a nós.
Quanto a nossa ofensa é por uma crítica desmedida, injustificada, exagerada, e ainda por cima conseguimos, com trabalho, esforço e determinação, conseguir fazer o trabalho, mostrando a estes críticos que estavam errados, claro que sentimos um sabor de vitória ainda mais gostoso. Neste ponto conseguimos a reparação do dano, os fatos derrotam as críticas e os autores das críticas têm que reconhecer as evidências. Ir além disso é vingança, e tentar causar ao autor da crítica algo que nem deveríamos ter sentido. Pior que isso é transformar a vingança como objetivo maior do trabalho. Como se disséssemos: “Vou conseguir só para provar que os meus críticos estão errados”. Há vários equívocos nesta postura. O primeiro é mudar o objetivo do trabalho, não houvera crítica não se faria o trabalho com tanto afinco? Outro é desconsiderar que as críticas fazem parte do trabalho e que podem alterar rumos e, portanto fazer parte do sucesso. Finalmente, há o equívoco em supor que é realmente possível fazer com o outro se sinta ofendido no mesmo nível que nos ofendemos, basta que o autor da crítica não se sinta ofendido e todo o esforço foi em vão.
A postura do técnico da seleção com a imprensa tem sido somente a de vingança, a vingança o move e só ela, o que é uma pena. Não deveria ser assim, não é essa a nossa tradição, não é nisso que acreditamos, não é isso que queremos passar para as gerações futuras. A tradição do nosso futebol é a brincadeira, a alegria, a descontração. É jogarmos um jogo de Copa do Mundo como uma pelada de fim de semana, revidando a provocação com um drible, devolvendo um carrinho com uma bola nas canetas. Transformando a cara amarrada num sorriso. E mais do que isso, sabermos que terminado o jogo tudo terminou. O mais gostoso de um futebol de fim de semana e a cerveja depois, em que rimos das bobagens que fizemos e nos confraternizamos com alegria.
A postura do Dunga é a mesma do Zagalo quando dizia “Vocês vão ter que me engolir!”, e a nossa resposta a isso foi o deboche. Esta foi a nossa vingança e não deixamos de comemorar as vitórias e de chorar as derrotas e de sermos gratos a ele por toda a alegria que nos trouxe.
Optar pela vingança é optar pela derrota certa, é escolher um objetivo que nunca será atingido. Ganhemos a Copa e todos nós estaremos felizes, a imprensa não se sentirá ofendida por mais que Dunga ofenda os jornalistas, se perdemos a Copa todos perderemos e a distância imposta nos impedirá de chorarmos juntos, de lambermos nossas feridas.

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