sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Petróleo Quinado Juvênia

 


Antigamente um salão de barbeiro era um salão de barbeiro, não era como hoje é um local onde se tem uma experiência masculina e, se der sorte, se corta o cabelo e se faz a barba. Os produtos masculinos também não tinham tanta especialidade e nem tantos cremes e poções.

Eu confesso que nunca fui um apreciador, não era um ambiente em que me sentia totalmente à vontade, amigos meus tinham barbeiros que conheciam a vida, parceiros, amigos, confidentes. Eu queria resolver logo a questão e voltar aos meus afazeres.

Num dado momento da minha infância/adolescência comecei a cortar o cabelo no mesmo barbeiro em que ia meu pai e meu irmão. Quando ia com meu pai não podia olhar as revistas masculinas, nem eram aquelas revistar pornográficas, mas revistas que eu jamais via em casa. O barbeiro era calado e isso me agradava também.

Em casa meu pai falou que ele parecia o Minelli, Rubens Minelli, técnico de futebol de muito sucesso. Pronto, passamos a chamá-lo de Minelli. "Hoje eu vou no Minelli." "Já tá na hora de ir ao Minelli." "Minelli te mandou lembranças".

Ontem fiquei sabendo que o Minelli, o técnico mesmo, faleceu aos 94 anos. Eu até estranhei, imaginava que ele já tinha falecido. Imediatamente mandei uma mensagem enigmática para meu irmão:

"Onde vamos cortar o cabelo agora?"

Meu irmão não entendeu e eu então mandei a notícia.

Das profundezas da memória mais absurda do mundo meu irmão lembrou o nome do barbeiro: José Peres (Perez) e da loção Petróleo Quinado Juvênia, que ilustra esse post.

Às lembranças do Minelli e do barbeiro vieram as lembranças da infância do tempo junto e de família. Da criação de laços nas pequenas coisas do dia-a-dia com que vamos tecendo a rede que nos sustenta a vida toda.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Antes que o café esfrie

 Minha filha indicou o livro "Antes que o café esfrie" de  Toshikazu Kawaguchi (https://www.amazon.com.br/Antes-caf%C3%A9-esfrie-Toshikazu-Kawaguchi/dp/6588490364)


A indicação é certeira porque é um livro cujo cenário é uma máquina do tempo, assunto que me fascina desde que, criança, eu li H.G. Wells.
De lá para cá, li, vi e estudei tudo que me passou na frente sobre o assunto, sendo um pontos altos a explicação rudimentar que passei para a minha irmã caçula sobre a teoria da relatividade, viagens no espaço e velocidade da luz.
Não é de se estranhar que eu gostaria do livro e ainda estou na metade.
À parte questões conceituais, viabilidade, paradoxos, possibilidades paralelas, incongruências, laços infinitos, sempre me cai a pergunta do que eu faria se pudesse voltar no tempo.
Mas antes a resposta mais simples é o que eu faria se pudesse avançar no tempo, e para esta pergunta a resposta é matar minha curiosidade. O que a humanidade irá saber sobre o cérebro? Como vamos lidar com o espiritismo? A homeopatia? Como se organizará a nossa sociedade no futuro? Ir para o futuro seria uma fonte de conhecimento que me anima.
Voltando a pergunta anterior....
O que eu faria se pudesse voltar ao passado?
A resposta mais comum e que vem perdendo força é: Matar Hitler. A guerra vai ficando distante e as tentativas de matá-lo (42 segundo algumas contagens) foram infrutíferas.
A resposta que cabe seria uma série de eventos nos quais eu poderia me explicar melhor, em que eu venceria meu silêncio, minha vergonha, minha covardia e falaria o que deveria ter dito no momento exato. Limpando mágoas que deixei em algumas pessoas e que são totalmente imerecidas. Atendendo ao princípio de imutibilidade do que já passou eu poderia fazer a vida de algumas pessoas mais leves e, porque não dizer, me deixaria mais leve também.
E você? Tem alguma recomendação de ficção sobre máquina do tempo? O que você faria se pudesse voltar ao passado?