segunda-feira, 25 de março de 2024

Klezmer

 A vida é feita de lembranças. De lembranças daquilo que aconteceu, que nos emocionou, de imagens, cores, sons, cheiros... é feita até daquilo que não aconteceu e guardamos na memória como algo que desejávamos ou temíamos. O que fica para a vida são as lembranças, por isso é importante cultivar e alimentar lembranças, por isso contamos histórias, escrevemos, guardamos fotografias e filmes.

E também por isso é importante criar lembranças!

Podemos ficar em casa e dormir, descansar, ou nos colocar à disposição da vida e ir atrás de acontecimentos que gerarão lembranças.

Podemos fazer mais, fazer o mundo girar e agitar corações e mentes para fazer eventos, reunir pessoas e criar boas lembranças.

Este domingo eu fui assistir, na casa de uma amiga um concerto de música Klezmer, com o grupo KlezmerKabaret.

****

Klezmer é um gênero de música não-litúrgica judaica, desenvolvido a partir do século XV pelos asquenazes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Klezmer


KlezmerKabaret


****

A amiga encontrou o grupo, organizou o show, chamou os amigos, abriu a casa e recepcionou a todos com aquele sorriso acolhedor.

Finalizei o fim de semana pesado entre amigos, ouvindo uma música nova para mim, fazendo leve o domingo.

Obrigado, Val.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Viajar só

 Uma prima muito querida tinha o costume de viajar só. Ela adora viajar, mas nem sempre tinha companhia e isso nunca a impediu de viajar. Foi dela que eu ouvi pela primeira vez sobre o prazer de viajar sozinha.

O mais comum é que a viagem se dê em grupos, a gente viaja em família, em grupos de amigos e até monta grupo com desconhecidos para que a viagem fique mais divertida. Só que às vezes não. Pois numa viagem é que a verdade sobre as pessoas  pode aparecer.

Aliás, é até um conselho de avó: para conhecer uma pessoa você deve viajar com ela. 

Na viagem as coisas saem do seu normal, aparecem problemas, as instalações podem ser boas mesmo assim nunca são como as de nossa casa. Muitas vezes as instalações são piores. As viagens atrasam, a gente perde o horário ou espera infinitos. A comida pode ser boa e pode fazer mal, ou não ter quando chegamos tarde ao restaurante que já fechou.

Enfim, viajar é tudo de bom e pode conter tudo de ruim. Nesse intervalo as pessoas perdem o controle de seu comportamento e se revelam.

Viajar com alguém também significa fazer concessões, de horários, de lugares, de ritmo de passeio, de escolhas enfim. Significa estar em constante negociação. Também aqui as pessoas se revelam.

Eu fiz poucas viagens sozinho, acho que prefiro o conforto de casa do que a viagem solo. Nesse momento da vida estou imensamente feliz em ter comigo a melhor companhia de viagem! Alguém que me respeita e se respeita, propõe sem impor, fala e escuta e sempre, mas sempre mesmo coloca o bom humor em tudo!


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Eu rabisco livros

 


Não. Eu não rabisco livros, pelo contrário, eu tenho um respeito sepulcral por livros, dobrar a orelha nem pensar. Uso marcador de livros, nem a orelha da capa gosto de usar. Quero sempre deixar o livro como se novo fosse.
Tem gente que rabisca, faz anotações, usa marca texto de várias cores...
Hoje eu ouvi um podcast do programa "Rádio Novelo Apresenta" que trata desse assunto e me deixou muito emocionado. (https://open.spotify.com/episode/3XwbptWsX6YsWmjZMbCGtm?si=4emFpdXsRYO9H4B335L1qA)
E você? Risca e rabisca??


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Petróleo Quinado Juvênia

 


Antigamente um salão de barbeiro era um salão de barbeiro, não era como hoje é um local onde se tem uma experiência masculina e, se der sorte, se corta o cabelo e se faz a barba. Os produtos masculinos também não tinham tanta especialidade e nem tantos cremes e poções.

Eu confesso que nunca fui um apreciador, não era um ambiente em que me sentia totalmente à vontade, amigos meus tinham barbeiros que conheciam a vida, parceiros, amigos, confidentes. Eu queria resolver logo a questão e voltar aos meus afazeres.

Num dado momento da minha infância/adolescência comecei a cortar o cabelo no mesmo barbeiro em que ia meu pai e meu irmão. Quando ia com meu pai não podia olhar as revistas masculinas, nem eram aquelas revistar pornográficas, mas revistas que eu jamais via em casa. O barbeiro era calado e isso me agradava também.

Em casa meu pai falou que ele parecia o Minelli, Rubens Minelli, técnico de futebol de muito sucesso. Pronto, passamos a chamá-lo de Minelli. "Hoje eu vou no Minelli." "Já tá na hora de ir ao Minelli." "Minelli te mandou lembranças".

Ontem fiquei sabendo que o Minelli, o técnico mesmo, faleceu aos 94 anos. Eu até estranhei, imaginava que ele já tinha falecido. Imediatamente mandei uma mensagem enigmática para meu irmão:

"Onde vamos cortar o cabelo agora?"

Meu irmão não entendeu e eu então mandei a notícia.

Das profundezas da memória mais absurda do mundo meu irmão lembrou o nome do barbeiro: José Peres (Perez) e da loção Petróleo Quinado Juvênia, que ilustra esse post.

Às lembranças do Minelli e do barbeiro vieram as lembranças da infância do tempo junto e de família. Da criação de laços nas pequenas coisas do dia-a-dia com que vamos tecendo a rede que nos sustenta a vida toda.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Antes que o café esfrie

 Minha filha indicou o livro "Antes que o café esfrie" de  Toshikazu Kawaguchi (https://www.amazon.com.br/Antes-caf%C3%A9-esfrie-Toshikazu-Kawaguchi/dp/6588490364)


A indicação é certeira porque é um livro cujo cenário é uma máquina do tempo, assunto que me fascina desde que, criança, eu li H.G. Wells.
De lá para cá, li, vi e estudei tudo que me passou na frente sobre o assunto, sendo um pontos altos a explicação rudimentar que passei para a minha irmã caçula sobre a teoria da relatividade, viagens no espaço e velocidade da luz.
Não é de se estranhar que eu gostaria do livro e ainda estou na metade.
À parte questões conceituais, viabilidade, paradoxos, possibilidades paralelas, incongruências, laços infinitos, sempre me cai a pergunta do que eu faria se pudesse voltar no tempo.
Mas antes a resposta mais simples é o que eu faria se pudesse avançar no tempo, e para esta pergunta a resposta é matar minha curiosidade. O que a humanidade irá saber sobre o cérebro? Como vamos lidar com o espiritismo? A homeopatia? Como se organizará a nossa sociedade no futuro? Ir para o futuro seria uma fonte de conhecimento que me anima.
Voltando a pergunta anterior....
O que eu faria se pudesse voltar ao passado?
A resposta mais comum e que vem perdendo força é: Matar Hitler. A guerra vai ficando distante e as tentativas de matá-lo (42 segundo algumas contagens) foram infrutíferas.
A resposta que cabe seria uma série de eventos nos quais eu poderia me explicar melhor, em que eu venceria meu silêncio, minha vergonha, minha covardia e falaria o que deveria ter dito no momento exato. Limpando mágoas que deixei em algumas pessoas e que são totalmente imerecidas. Atendendo ao princípio de imutibilidade do que já passou eu poderia fazer a vida de algumas pessoas mais leves e, porque não dizer, me deixaria mais leve também.
E você? Tem alguma recomendação de ficção sobre máquina do tempo? O que você faria se pudesse voltar ao passado?



segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Pessoas que magoei




A música “Sei lá eu” de Pedro Altério e Pedro Viáfora, do Cinco a Seco é que me despertou a ideia de hoje, os versos são:


(...)

Posso ser o corno que vai matar

Já fui eu o chato que gritou

Posso ser o rico que quer mandar

(...)



Pessoas chatas, ingratas, mal-educadas, grosseiras, somos todos. Lembro de dois fatos emblemáticos. No primeiro deles eu estava super cansado de um dia estafante de trabalho e voltava de Santos para o Guarujá tomando a barquinha na ponta da praia. Era o horário de final do trabalho, muita gente transitando de lá para cá e como é comum naquele trecho, muitas bicicletas. Uma bicicleta veio pela calçada em minha direção e não conseguiu frear. O motorista (existe motorista? Deveria usar biker?) tentou e tentou, mas não conseguiu, a bicicleta já em baixa velocidade parou na minha canela, foi um toque, bem leve por sinal. E eu descarreguei a raiva do dia no piloto (me recuso a usar biker). Ele se desculpou, ficou atônito e assim que eu parei de dizer impropérios ele me perguntou: Foi para tudo isso? 


Eu caí em mim e então me desculpei envergonhado.


Outro momento foi quando eu estava indo a uma festa que não queria, a chuva caía e um flanelinha veio orientar como estacionar e eu respondi grosseiramente, ele então desistiu de cobrar e eu percebi que tinha colocado a minha raiva dele, me desculpei e paguei.


Nesses dois exemplos eu ainda consegui me redimir e apresento as minhas motivações. Nem sempre é assim, quase nunca é.


Muitas vezes eu não percebo a mágoa que causei, ou só a percebo muito tempo depois que aconteceu. O contrário também pode ser verdade, acho que magoei e a pessoa nem percebeu.


A única solução para o problema, considerando que ainda não temos uma máquina do tempo, é pedir perdão, aquele perdão sincero e arrependido. Acontece que nem sempre essa solução está disponível, na pior das hipóteses a pessoa magoada já se foi e nos resta pedir perdão para os parentes próximos, é um remédio, mas não uma solução. Outras vezes a pessoa está distante e não aceita mais nenhum contato, bloqueia acessos e avisa amigos que não quer mais falar, fecha os ouvidos e represa em nós o arrependimento. 


Quando ainda é possível pedir esse perdão é preciso coragem para assumir e superar a vergonha sem esperar o perdão, assumir o erro e tentar reparar o dano, se possível.


Pensando nesse tema, percebi que muitas vezes magoei pessoas, para algumas percebi e corrigi, para outras não; para algumas eu pedi perdão e para outras não.


Espero que esse texto seja o início de uma jornada de coragem para o resgate.


serviço: Sei lá eu (Pedro Altério e Pedro Viáfora): https://open.spotify.com/intl-pt/track/56NOkgZrtPi6mAwjGtsNZ0



segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Vezes 2

 


Ouvir as mensagens de voz em dupla velocidade virou um hábito, ouvir as mensagens em velocidade normal é quase um suplício, como se estivessem conversando em baleiês (Ver Dory em Procurando Nemo - Dory).

Ouço todas as mensagens em dupla velocidade para ter mais tempo para ver mais reels, vídeos curtos e a minha atenção vai pulando daqui para ali e de lá para cá.

Tenho que me policiar para assitir um filme e me desconectar do celular. O que ainda consigo. E preciso de mais força de vontade para ler um livro.

Fiquei imaginando se houvesse a dupla velocidade na vida real. Seria igual querer flores no jardim e já tê-las. Se que fosse fazer um pão e pudesse prescindir do tempo para a bolinha subir no copo d'água.

Tudo para ganhar tempo e depois perder tempo.

Tenho as flores e perco a conversa com o jardineiro, tenho o pão e perco o descanso na rede. 

A pergunta para a qual já tenho resposta é que é muito mais importante a conversa com o jardineiro do que as flores, ou descanso ao invés do pão.

Por isso a resolução é essa: nunca mais vou ouvir mensagens em dupla velocidade, não há minuto que possa ser aproveitado melhor do que ouvir com cuidado a mensagem que alguém gravou para mim.





P.S. Foi só publicar esse post e comecei a receber mensagens em baleiês.