segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Palavras Novas x Percepção Seletiva

Caminhávamos em direção ao parque no sábado de manhã. Aproveitávamos para conversar de todo e qualquer assunto, na maioria das vezes maledicências que é o nosso esporte preferido.

Ela então pergunta:

- Como é mesmo aquela citação, "Famílias felizes são todas iguais....".

Eu respondi:

- É de Dostoiésvki.

- E quem falou isso? Porque isso me veio à lembrança. - Ela perguntou.

- Foi porque o Felipe repetiu essa citação para fazer o comparativo com países, quando discutíamos sobre as diferenças entre Brasil e Argentina por causa do filme 1985. Ele usou a mesma citação para dizer que países prósperos são todos iguais.

Aproveitamos para comparar nossa felicidade atual com as infelicidades de outros casais e de outras épocas.

Resolvida essa questão, voltamos às maledicências e às críticas aos corredores de final de semana.

"Os que correm bem são todos iguais, os que correm sofrendo, sofrem cada qual à sua maneira." Foi a conclusão sem concluir a que chegamos.

Chegando em casa fui conferir e vi que estava errado. Não é de Dostoiésvki é de Tolstói, em Ana Karenina.

Neste mesmo dia fui almoçar com pais, encontrei minha irmã, meu irmão e minha cunhada. Como sempre um cardápio delicioso, mesmo sendo o dia vegano tivéssemos a exceção de uma rabada muito boa.

Depois da sobremesa, fomos conversar na sala e eu fiz a provovação.

- De quem é a citação: "Todas as famílias felizes são iguais..."

Nem precisei terminar e minha mãe já dizia: "Eu sei, eu sei! Posso falar?"

Meu irmão anuiu e minha mãe cometeu o mesmo erro que houvera cometido. Atribuiu à Dostoiésvki, mas eu nem bem amecei corrigir e ela se corrigiu, informando o livro.

Voltei para a casa e à noite recebo a imagem da minha mãe no celular:


Não é que ela leu essa notícia no jornal no mesmo dia? São as coisas que tem vida própria e nos circulam como amigos distantes que vem nos ver e preenchem dias depois de anos afastados? Ou tudo está acontecendo ao mesmo tempo e nós percebemos o que nos chama atenção?

Prefiro ainda uma outra hipótese, convivemos com pessoas com as quais temos afinidade, que vivem os mesmos livros e filmes, as mesmas referências. Tenho amigos que gostam de citar T.S. Elliot e Tolstói, assim como meus familiares.

Sou feliz em ter amigos e família assim.