segunda-feira, 19 de maio de 2025

Bragantino x Guarani - O jogo da generosidade

 

No dia 4 de dezembro de 1966, em Bragança Paulista, no estádio Marcelo Stefáni, deu-se o match entre o time da casa e o Guarani de Campinas. Eu tinha 7 meses incompletos. Em casa morávamos, meus pais e minhas duas irmãs mais velhas, de quatro e dois anos de idade.



EM PÉ (esquerda para a direita): Ronaldo, Luisão, Lever, Hamilton, Walter e Luisinho;
AGACHADOS (esquerda para a direita): Osmar, Paraguaio, Aloísio, Toninho, Felício e Wilsinho.
Fonte: https://historiadofutebol.com/blog/?p=128424

Também estava em casa o primo da minha mãe que tinha vindo de São Carlos para um temporada em Campinas para fazer um curso preparatório para o vestibular de medicina. Neste cenário: uma casa com três filhos, sendo um de meses; meus pais acolheram um primo para estudar.


No final de semana do dia 4 de Dezembro, um amigo do meu pai o ‘convidou’ para ir até Bragança Paulista para assistir o jogo entre o Guarani e o Bragantino. O ‘convidou’ está entre aspas porque o amigo precisava também do fusca do meu pai para ir até Bragança Paulista. Meu pai é Ponte Preta, mas o amigo era Bugrino e eles gostavam mais de futebol do que qualquer outra coisa. Convidaram o visitante que aceitou prontamente o programa de domingo. Meu pai disse que durante o jogo conversou com o presidente do Bragantino que era amigo do meu avô, mas não há outras fontes para confirmar.


Mais do que o jogo ou o programa de domingo, este fato revela a generosidade familiar em acolher um primo para uma temporada de estudos, isso aconteceu várias e várias vezes na minha casa.


E como diz o locutor de futebol: “o tempo passa” e o tempo passou.


Trinta anos depois, eu já tinha me mudado para a minha sexta cidade - Botucatu, meu primo estava muito bem estabelecido como médico pediatra em Cuiabá.


Minha filha precisou fazer uma cirurgia de rim antes de completar um ano. Eu recorri então a este primo para orientação e paz. Como ele tinha se formado justamente em Botucatu, calhou do médico da minha filha ser um colega de turma dele. Meu primo deu toda a orientação e apaziguamento que precisávamos. Foi de uma generosidade ímpar. Generosidade que sempre foi a característica dele. Quando nos recebia em São Carlos e examinava todas as crianças com o estetoscópio e fazia brincadeiras especiais com cada um. Generosidade ao dar uma piscina de plástico que fez a alegria de todas as crianças que iam passar as férias na casa dos avós.


Esta história não é para falar levianamente de alguma lei do retorno ou de qualquer tipo de compensação. Nenhuma das generosidades aqui citadas foi feita com intenção de reciprocidade, todas foram genuinamente desinteressadas. Só não posso deixar de acreditar que colocar generosidade no mundo faz o mundo um pouquinho melhor e com isso somos mais afeitos a generosidade.


Serviço:

BRAGANTINO 2 x GUARANI 1

Local: Estádio "Marcelo Stefani", em Bragança Paulista.

Bragantino: Ado; Luisinho, Ivan e Roberto; Hamilton e Valter; Anacleto, Dema, Aloisio, Helio Burini e Wilsinho. Técnico: Armando Ristow de Camargo - Major

Guarani: Dimas; Deleu, Paulo e Diogo; Odair e Tarciso; Carlinhos, Nelsinho, Osvaldo, Americo e Vagner. Técnico: Dorival Geraldo dos Santos

Gols: Aloisio (19-1), Osvaldo (40-1) e Anacleto (29-2).

Árbitro: José Batista dos Santos.

Renda: Cr$ 2.073.000 (1.560 pagantes)

Fonte: https://brfut.blogspot.com/2010/06/campeonato-paulista-1966-ii-turno.html




domingo, 11 de maio de 2025

59 != 60

 Quando criança meu medo era estar velho no ano 2000 quando teríamos carros voadores nas ruas. A conta era simples, eu teria 33 anos na virada do século (sim, eu contava a virada do século no ano 2000). Cristo morreu com 33 e eu podia estar muito velho para aproveitar os carros-voadores.

Por ter nascido em 1966 a minha infância foi da era espacial, os temas eram sempre ligados a foguetes, planetas, órbitas e, é claro, a ameaça de uma guerra nuclear. Na escola tínhamos palestras sobre como sobreviver a um ataque nuclear e como era a alimentação dos astronautas.

É natural que no meu aniversário de 5 anos o bolo tenha sido um foguete.



A figura não é essa, mas foi a que eu achei. Minha mãe fez um bolo de chocolate, cortou bloquinhos, embalou com papel alumínio e montou um foguete. Eu fiquei muito feliz!!

Outro aniversário que me deixou muito feliz foi o de 10 anos, quando dividi a festa com minha irmã que faz aniversário 9 dias antes e é dois anos mais nova. Chamamos todos amigos para casa e foi uma delícia. Me lembro de ter ganho um Matchbox com um leão que andava em círculos quiando o carrinho andava.

Não é o original, mas desse eu achei a foto perfeita.

Ontem fiz 59, ou como diria meu avô: completei 59, entrei nos 60, já é quase 61. Tive a alegria de comemorar com um super show, muito intimista com músicos que adoro tocando músicas que eu amo. Foi fantástico.

Também adorei ter ganho um guarda roupa novo, camisas com dizeres que me representam, camisetas que vou usar muito, um jogos de xadrez em cerâmica azul e uma imagem de Jesus 'good vibes'. Ou seja, tudo o que eu preciso para ser feliz.

Recebi mensagens de tudo quanto é quando, de todos os lugares em que trabalhei e todas as cidades que morei. Foi fantástico!

*O título é uma referência a um cartaz que coloquei na minha sala quando dava aula de programação e os alunos vinham pedir para arredondar a nota, 60 era a nota mínima para passar. 59 != 60 quer dizer 59 é diferente de 60 em algumas linguagens de programação e remete também a um dito na engenharia que diz que 60 é 100, ou 5 é 10, dependendo da nota para passar.



domingo, 9 de fevereiro de 2025

Pequenos gestos de grandes carinhos

 Não vivemos só de aplausos!

Eu gosto e preciso muito de alguns carinhos, de elogios, de saber-me bem quisto e que as pessoas ao meu redor me consideram.

Isso normalmente acontece nos momentos especiais, como aniversários ou grandes conquistas: novo emprego, passar num concurso, formaturas...

Isso também acontece nos momentos difíceis quando os ombros amigos aparecem sem que precisemos pedir, até mesmo uma pergunta:

- Tudo bem?

De quem tem o olhar atento e me vê cabisbaixo já é um grande gesto de carinho.

Hoje quero contar de gestos de carinhos mínimos, mas que fazem efeitos gigantescos. Eu recebi três recentemente.

Um casal de amigos ia receber outro casal para um jantar na sexta-feira e nos chamou para compartilhar o jantar e a conversa. Eles não tinham a obrigação, poderiam escolher qualquer casal entre vários e nos escolheram, não foi só um convite para um jantar, foi um gesto que também quer dizer: venham, vocês são sempre acolhidos, venham, gostamos da sua companhia, da sua conversa, os queremos perto. À parte o strogonoff de couve-flor estivesse fantástico, o convite nos fez muito bem.

Uma amiga foi apoiar uma filha que necessitava de um colo urgente, ela se desdobrou em uma longa e difícil viagem para estar perto da filha, fez a acolhida, lambeu as feridas e carregou no colo a cria, literalmente. A filha então resolve fazer uma declaração de gratidão, daquelas que nos enchem de emoção. A amiga não coube em si e compartilhou conosco o evento. Esse compartilhar nos trouxe muito perto daquele momento sublime. Muito mais do que compartilhar a mensagem também foi um recado dizendo o quanto somos importantes e o quanto confiam em nós, ouso até dizer com um pouco de audácia e sem nenhuma modéstia que talvez até tenhamos uma pequena participação naquele momento. À parte a delicadeza do gesto, o compartilhar nos fez muito bem.

Uma outra amiga ficou sabendo que um chalé no condomínio onde mora está para vender e nos manda uma mensagem sugerindo que compremos o imóvel. Não é uma grande oferta, nem uma super oportunidade, mas foi uma lembrança que também diz, venham, aproveitem conosco momentos felizes, vocês são queridos aqui, confiamos em vocês para estarmos juntos. À parte a beleza do lugar e nos achar capazes de fazer o investimento, a sugestão nos fez muito bem.

Sou muito feliz por ter amigos assim, que fazem sem perceber gestos tão carinhosos.

domingo, 19 de janeiro de 2025

O que temos para hoje

"É o que temos para hoje."

Essa frase me aparece recorrentement, ora aqui, ora ali, sempre com o sentido de temos que nos contentar o que nos apresenta no momento. Por exemplo, não estou no restaurante que queria, ou o restaurante onde estou não o prato que eu gostaria. È o que tem para hoje, me diz o amigo e assim me contento com o restaurante ou com o prato do dia que está disponível para aquele momento, é o que tem prá hoje.

Quando criança eu tinha toda a vida para frente e toda a preocupação em conquistar um futuro tranquilo, em fazer como a formiga e garantir o inverno da minha vida. Essa luta segue dia após dia, num sem fim de um futuro que nunca chega.

Agora, chegando quase na fase de ser considerado idoso, sinto que passou o tempo de criança, juventude e maturidade, dos quais guardo muitas lembranças felizes e outras nem tanto.

No fundo, sempre tive o que "tem para hoje" e considerar isso é a receita para ser feliz, dia após dia.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Acender as velas e desfazer as malas

 

(https://miltonjung.com.br/2023/07/17/o-ritual-do-desfazer-das-malas-e-o-fim-de-uma-etapa-e-o-reinicio-de-outra/)

Chegar de viagem e já desfazer a mala. Assim sou eu. A mala desfeita e organizada faz parte da viagem. Nem todo mundo é assim, a mala pode ficar por dias num canto esquecido do quarto.

Estava desfazendo a mala da última viagem e a cada peça de roupa me vinha a lembrança do momento da viagem em que usei aquela roupa. Achei a lanterna que julgava perdida e veio a alegria de ter encontrado e a frustação de não ter usado quando precisava. Separei as lembranças e me veio a alegria em reencontrar pessoas. Ao final, com as roupas para lavar no cesto, os presentes arrumados e a mala no maleiro do armário finalmente me veio a sensação de 'festa acabada', poder descansar com a missão cumprida e recuperar as energias para recomeçar.

Pensava nisso e a memória, a cada dia mais falha, cantarolou os versos da música de Zé Keti: Apagar as velas, já é tradição....(Depois verifiquei e os versos são: Acender as velas, já é tradição, quando não tem samba, tem desilusão). Como estava pensando no fim, pensei em apagar. Fui traído.

Apagamos velas, desfazemos malas, fechamos ciclos para um novo recomeço. A mala lá está, pronta para um nova viagem. Terminar uma é já iniciar outra!

Obs. Fui buscar a foto para ilustrar o texto e encontrei o ótimo texto do Milton Jung, mesmo tema, mas muito melhor.


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Tonico e a sopeira

 Diz a minha mãe que eu era fascinado por espelhos e reflexos, nem que fosse no botão do porta-luvas do fusca.

Uma das imagens que me fascinava e está na minha memória, do fusquinha eu não me lembro, é o meu reflexo numa sopeira de inóx gigante. Eu colocava minha cabeça até a metade e via meu reflexo invertido e uma imagem real, ou seja que se formava entre o meu rosto e a sopeira.

Aquilo me encantava. Depois de ver a minha imagem eu comecei a colocar objetos, mas era difícil colocar o objeto e ficar numa janela de visão adequada. Para solucionar este problema eu colocava um palito de churrasco e ganhava algum espaço.

Minha frustação era não conseguir explicar para ninguém o que eu fazia com a cabeça enviada na sopeira.

Quando eu finalmente esudei ótica e aprendi sobre espelhos côncavos eu consegui entender o que estava acontecendo. Lembro que na aula eu comentei com o professor, que educadamente concordou comigo, mas não me deu muita trela.

O reflexo do meu nariz na sopeira só me interessava a mim.

Esta semana, a sopeira voltou com um gostinho de vitória. Recebi de uma amiga minha esse vídeo de Oxford Math: https://youtu.be/w7Rt6lYoYnI?si=p8MPGLln61EN6QST


Uma 'sopeira' muito mais chique e tecnológica, mas com o mesmo princípio!

Como é bom ter memória e ainda melhor ter amigos que nos conhecem.



quinta-feira, 23 de maio de 2024

Elegância

No dicionário das minhas pesquisas (priberam.pt) temos:
     1. Gosto delicado no trajar, no falar, no adorno da casa, etc.

    2. Graça, airosidade, delicadeza e distinção aliada à simplicidade e clareza.

"elegância", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/elegância.

Neste final de semana estava ouvindo músicas numa viagem longa e me deparei com os versos: "Ah, como esta moça é distraída, sabe lá se está vestida, ou se dorme transparente", do Chico Buarque em "A noiva da cidade".

Pensei na elegância dos versos que mostram a moça dormindo nua com uma delicadeza toda especial, nem um toque de vulgaridade, muito pelo contrário.

Elegância me está muito mais vinculado à aparência, ao vestir por exemplo. Mas não é só isso, como se vê no dicionário Elegância pode estar no trajar, no falar, no enfeite, etc.

Algumas pessoas são de uma elegância ímpar, tratam todos de uma maneira tão gentil que é admirável. De pronto acho que quem não trata a todos não é elegante. Já havia meditado sobre essa elegância no falar e a definição que tenho é que elegância consiste em deixar o seu interlocutor à vontade.

Adoro que seja assim, que a elegância seja vista para o outro. O Chico, com um verso tão delicado, nos deixa extremamente confortáveis. Estar vestido de maneira adequada ao ambiente e aos costumes deixa as pessoas confortáveis. Mas é na fala que a elegância se mostra mais importante, usar a linguagem adequada, respeitosa, sensível... ouvir o que o outro tem a dizer com atenção, concordar com for para concordar, discordar com respeito quando for o caso.

Tenho o privilégio de conhecer pessoas muito elegantes e com elas aprendi um pouco esta arte.


A noiva da cidade está disponível em: https://open.spotify.com/intl-pt/track/4Q8HZYPUniUYcng839AT2R?si=9538f8312fbb47be