No dia 4 de dezembro de 1966, em Bragança Paulista, no estádio Marcelo Stefáni, deu-se o match entre o time da casa e o Guarani de Campinas. Eu tinha 7 meses incompletos. Em casa morávamos, meus pais e minhas duas irmãs mais velhas, de quatro e dois anos de idade.
Também estava em casa o primo da minha mãe que tinha vindo de São Carlos para um temporada em Campinas para fazer um curso preparatório para o vestibular de medicina. Neste cenário: uma casa com três filhos, sendo um de meses; meus pais acolheram um primo para estudar.
No final de semana do dia 4 de Dezembro, um amigo do meu pai o ‘convidou’ para ir até Bragança Paulista para assistir o jogo entre o Guarani e o Bragantino. O ‘convidou’ está entre aspas porque o amigo precisava também do fusca do meu pai para ir até Bragança Paulista. Meu pai é Ponte Preta, mas o amigo era Bugrino e eles gostavam mais de futebol do que qualquer outra coisa. Convidaram o visitante que aceitou prontamente o programa de domingo. Meu pai disse que durante o jogo conversou com o presidente do Bragantino que era amigo do meu avô, mas não há outras fontes para confirmar.
Mais do que o jogo ou o programa de domingo, este fato revela a generosidade familiar em acolher um primo para uma temporada de estudos, isso aconteceu várias e várias vezes na minha casa.
E como diz o locutor de futebol: “o tempo passa” e o tempo passou.
Trinta anos depois, eu já tinha me mudado para a minha sexta cidade - Botucatu, meu primo estava muito bem estabelecido como médico pediatra em Cuiabá.
Minha filha precisou fazer uma cirurgia de rim antes de completar um ano. Eu recorri então a este primo para orientação e paz. Como ele tinha se formado justamente em Botucatu, calhou do médico da minha filha ser um colega de turma dele. Meu primo deu toda a orientação e apaziguamento que precisávamos. Foi de uma generosidade ímpar. Generosidade que sempre foi a característica dele. Quando nos recebia em São Carlos e examinava todas as crianças com o estetoscópio e fazia brincadeiras especiais com cada um. Generosidade ao dar uma piscina de plástico que fez a alegria de todas as crianças que iam passar as férias na casa dos avós.
Esta história não é para falar levianamente de alguma lei do retorno ou de qualquer tipo de compensação. Nenhuma das generosidades aqui citadas foi feita com intenção de reciprocidade, todas foram genuinamente desinteressadas. Só não posso deixar de acreditar que colocar generosidade no mundo faz o mundo um pouquinho melhor e com isso somos mais afeitos a generosidade.
BRAGANTINO 2 x GUARANI 1
Local: Estádio "Marcelo Stefani", em Bragança Paulista.
Bragantino: Ado; Luisinho, Ivan e Roberto; Hamilton e Valter; Anacleto, Dema, Aloisio, Helio Burini e Wilsinho. Técnico: Armando Ristow de Camargo - Major
Guarani: Dimas; Deleu, Paulo e Diogo; Odair e Tarciso; Carlinhos, Nelsinho, Osvaldo, Americo e Vagner. Técnico: Dorival Geraldo dos Santos
Gols: Aloisio (19-1), Osvaldo (40-1) e Anacleto (29-2).
Árbitro: José Batista dos Santos.
Renda: Cr$ 2.073.000 (1.560 pagantes)
Fonte: https://brfut.blogspot.com/2010/06/campeonato-paulista-1966-ii-turno.html