A música “Sei lá eu” de Pedro Altério e Pedro Viáfora, do Cinco a Seco é que me despertou a ideia de hoje, os versos são:
(...)
Posso ser o corno que vai matar
Já fui eu o chato que gritou
Posso ser o rico que quer mandar
(...)
Pessoas chatas, ingratas, mal-educadas, grosseiras, somos todos. Lembro de dois fatos emblemáticos. No primeiro deles eu estava super cansado de um dia estafante de trabalho e voltava de Santos para o Guarujá tomando a barquinha na ponta da praia. Era o horário de final do trabalho, muita gente transitando de lá para cá e como é comum naquele trecho, muitas bicicletas. Uma bicicleta veio pela calçada em minha direção e não conseguiu frear. O motorista (existe motorista? Deveria usar biker?) tentou e tentou, mas não conseguiu, a bicicleta já em baixa velocidade parou na minha canela, foi um toque, bem leve por sinal. E eu descarreguei a raiva do dia no piloto (me recuso a usar biker). Ele se desculpou, ficou atônito e assim que eu parei de dizer impropérios ele me perguntou: Foi para tudo isso?
Eu caí em mim e então me desculpei envergonhado.
Outro momento foi quando eu estava indo a uma festa que não queria, a chuva caía e um flanelinha veio orientar como estacionar e eu respondi grosseiramente, ele então desistiu de cobrar e eu percebi que tinha colocado a minha raiva dele, me desculpei e paguei.
Nesses dois exemplos eu ainda consegui me redimir e apresento as minhas motivações. Nem sempre é assim, quase nunca é.
Muitas vezes eu não percebo a mágoa que causei, ou só a percebo muito tempo depois que aconteceu. O contrário também pode ser verdade, acho que magoei e a pessoa nem percebeu.
A única solução para o problema, considerando que ainda não temos uma máquina do tempo, é pedir perdão, aquele perdão sincero e arrependido. Acontece que nem sempre essa solução está disponível, na pior das hipóteses a pessoa magoada já se foi e nos resta pedir perdão para os parentes próximos, é um remédio, mas não uma solução. Outras vezes a pessoa está distante e não aceita mais nenhum contato, bloqueia acessos e avisa amigos que não quer mais falar, fecha os ouvidos e represa em nós o arrependimento.
Quando ainda é possível pedir esse perdão é preciso coragem para assumir e superar a vergonha sem esperar o perdão, assumir o erro e tentar reparar o dano, se possível.
Pensando nesse tema, percebi que muitas vezes magoei pessoas, para algumas percebi e corrigi, para outras não; para algumas eu pedi perdão e para outras não.
Espero que esse texto seja o início de uma jornada de coragem para o resgate.
serviço: Sei lá eu (Pedro Altério e Pedro Viáfora): https://open.spotify.com/intl-pt/track/56NOkgZrtPi6mAwjGtsNZ0