Nos despedimos no metrô em São Paulo, em um sábado à noite.
Você voltava de um concerto e eu iria para casa de minha vó depois de te ouvir
cantar. Estávamos de branco e preto, você por uniforme do coral e eu por pura
casualidade.
De lados opostos da estação eu brinquei de fazer sinais com
os braços, como fazem os marinheiros. Os trens chegaram e interromperam nosso
diálogo impossível.
Menos de um ano se passou e nunca mais pude saber se você
compreendeu minha brincadeira de sinais.
Hoje, depois de jantar, me pus a ouvir uma gravação sua do
Lundu Brasileiro. A música fluiu e então percebi que fluída é a música, é o
trem, é a vida.
Mesmo que se grave a música, que se fotografe o trem e que
se registre a vida em qualquer meio possível, é a fluidez que marca os momentos
que passamos.
A memória daquela despedida não é a despedida, que foi
eterna, mas uma lembrança. Só possível pela existência daquele momento. Aquele
momento que foi nosso e que agora é só meu na minha memória, que também é
fluída.
Não sei se nos encontraremos, no metrô de São Paulo ou no Tube Londrino, se retomaremos aquela
lembrança ou deixaremos que a memória daqueles momentos também flua e possamos
construir outros.
* Parafraseando J.L. Borges